quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Introdução: Os sofrimentos do jovem Werther II

Personagens


"No começo do romance, sabemos que Werther está feliz fora de casa. Ele lembra de um caso amoroso mal resolvido e depois fala sobre os negócios de sua família. Em suas cartas iniciais a Wilheim, alguém próximo de sua família, ele vai relatando esses dias tranquilos, seus passeios por uma natureza feita sob medida para seu coração contemplativo. Também descreve a sociedade do lugar: as pessoas simples do povo, depois o erudito, que ele trata com algum desdém, e o bailio do príncipe com seus nove filhos (um deles, a jovem Charlotte, será justamente a paixão de Werther).

Esse idílio com a natureza parece se espalhar - mesmo que com tintas melancólicas - pelas cartas iniciais do romance. E ele ainda está presente quanto Werther conhece Lotte, naquele que se chama de "o mais encantador espetáculo de toda a minha vida": cercada de seis crianças, "uma linda jovem, de altura mediana, que trajava um simples vestido branco, com laços de fita cor-de-rosa nos braços e no peito". A partir daí, o leitor acompanha todo o desenrolar desse amor, até seu desenlace trágico, por meio desse registro sensível da subjetividade que é a carta.

O herói de Goethe será uma espécie de jovem muito inteligente, afetivo, com grande interesse pela literatura, pelas coisas da natureza e pela vida social do lugarejo que o cerca, mas que não encontra um lugar no mundo que lhe assegure sua pureza de espírito. Em uma primeira tentativa de se desvencilhar dese amor impossível que cada vez mais o enreda. Werther resolve deixar Lotte e ir trabalhar com um embaixador. Em seu novo emprego, ele passa a conviver com certa nobreza, pela qual não tem nenhuma simpatia, e, numa recepção, acaba expulso do salão por caisa das etiquetas sociais. Não será nesse meio que Werther encontrará seu lugar no mundo. E talvez em nenhum outro.

Já Albert, o noivo da bela Charlotte, não só entra na história para desandar com o idílio do jovem Werther, mas também para se colocar como uma espécie de contraponto burguês ao protagonista do romance. Ele é um homem com seu charme e sua inteligência, extremamente prático e que, ao contrário de Werther, encontra-se perfeitamente bem dentro das regras de sua classe social. Não é à toa que é a ele que Werther pede, com a desculpa de uma caçada, a arma de seu suicídio. Nada é acaso em um romance - tudo é armado com emoção e cuidado pelo narrador.

Vale lembrar, mais uma vez, o que diz Walter Benjamin: "Nos humores de Werther desenrola-se o mal du siècle da época em todas as suas nuanças. Werther - eis aí não apenas o amante infeliz que, em seu desespero, encontra um caminho rumo à natureza, caminho que desde Nouvelle Heloïse [Júvia ou a nova Heloísa] de [Jean-Jacques] Rousseau, nenhum amante voltara a procurar; ele é também o cidadão cujo orgulho se fere nas barreiras de sua classe e que, em nome dos direitos humanos, até mesmo em nome da criatura, exige seu reconhecimento. Através dele exprimirá Goethe por muito tempo, e pela última vez, o elemento revolucionário de sua juventude"." (GOETHE, 2010, p. 171-4).


GOETHE, J. W. Os sofrimentos do jovem Werther. Trad. Leonardo César Lack. São Paulo, SP: Abril, 2010.

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